Seja gentil com você
- Fernanda Barreto
- Nov 27, 2023
- 3 min read
Quando me propus criar o blog, eu já sabia que frequência seria um desafio. Uma mistura incrementada de medo, boicote, agenda cheia, pratinhos caindo, “mas será que eu devo mesmo?”, falta de criatividade, e por aí vai. As últimas semanas foram um pouco assim por aqui. Quando eu me sentava para começar a escrever, “magicamente” tudo se tornava prioridade antes do blog. Só que ainda assim eu sentia falta. E assim fui me dando conta que a escrita, que hoje ocupa um lugar de liberdade na minha vida, virou uma das minhas ferramentas de autocuidado.
Cenário: poucos meses após o nascimento da Isabel, pandemia no auge, clima de muito medo e incerteza. Lembro-me de acordar um dia com a casa ainda em silêncio e pensar no que seria da minha vida. Com todos os sentimentos juntos e os hormônios do puerpério a mil, eu sentia uma necessidade quase desesperada de me reencontrar. Controladora que sou, um caminho com um grande ponto de interrogação não me animava muito.
Que mãe eu conseguiria ser agora com dois filhos? Que filha eu conseguiria ser com pais doentes? Que profissional eu conseguiria ser após uma saída consciente do mercado formal de trabalho e com um balde de água fria pandêmico bagunçando qualquer tipo de plano? Foi quando eu me deparei com o “Pra ser inteira”, curso organizado pelas autoras Rafaela Carvalho e Roberta Ferec. Eu já acompanhava ambas nas redes e adorava o conteúdo, me sentia extremamente acolhida em uma conversa sobre maternidade onde o foco era muito mais a mãe do que o filho. Naquela plataforma, vídeos, textos e conversas sobre comunicação, autocuidado, autoconhecimento e etc pareciam acalmar a minha alma agitada e temerosa.
Cuidar de si e olhar para as próprias necessidades, buscar ser sua melhor versão. Foi ali que entendi que autocuidado não é egoísmo e que não devia me sentir culpada por isso. Concordei que na maioria das vezes deixamos de praticá-lo seja por falta de conhecimento (e autoconhecimento) ou por mau uso do nosso tempo. Enquanto a gente acha que não tem tempo para si mesma, não vou nem te contar a quantidade de tempo gasto no Instagram. Autocuidado é autorresponsabilidade e intenção. Enxergar o que nutre o ser humano que sou, e que não deixei de ser porque pari duas crianças.
E foi assim que elas me ajudaram a entender, em etapas, como colocar em prática. Primeiro, saber do que se trata o autocuidado. Em seguida, através da auto-observação, entender quem é você. Materializar e colocar para fora os desejos, os objetivos, os planos de vida. E, por último, reconhecer o que é importante e buscar qual é o tipo de autocuidado que você está mais precisando.
E aí vem a luta. Luta contra a inércia e as velhas respostas automáticas. Contra o medo e boicote. Mas aí você olha para o seu comprometimento quando cuida daqueles que ama. Por que não usar a mesma força consigo mesmo? No meu caso, que me ajuda nesse processo diário: terapia, conversa com quem eu amo, aprender algo novo, leitura, pensar e tentar executar projetos simples com linha de chegada. E escrever.
O que tem sido bem difícil? Celebrar as vitórias e ser gentil comigo mesma. Enquanto a gente só se cobrar pelo que não fez, enquanto a gente não baixar o nosso próprio sarrafo, vai parecer sempre que não estamos fazendo nada. Então é um exercício árduo e diário de reconhecer as conquistas e ser mais generosa comigo. Aceitar que os boicotes vão aparecer, que irei cair em alguns buracos, mas que vou fazer força para me reerguer. E, assim como chego no final desse texto, estar mais orgulhosa de mim e me sentindo um pouco mais inteira.
Delicia de texto!
Auto amor, auto cuidado, auto aceitação, difícil mesmo....