F.o.M.O
- Fernanda Barreto
- Oct 30, 2023
- 3 min read
Saí para minha caminhada matutina e coloquei, no automático, mais um podcast para ouvir. Faltava pouco tempo para chegar em casa, e pensei se valia a pena começar a ouvir outro. Então, escolhi uma playlist aleatória para me acompanhar naqueles minutos finais de exercício. Uma música animada começou a tocar e fui rapidamente contagiada. Junto veio uma sensação de saudosismo, já que ultimamente tenho escolhido mais “conteúdo” do que “lazer”.
A real é que a gente se sente tão cobrado – pelo mundo e, principalmente, por nós mesmos – pela quantidade de coisas para consumir que parece desperdício não aproveitar qualquer tempo livre. Outro dia mesmo, falei em um dos meus textos sobre a falta que o silêncio me faz. Mas a real é que eu mesma não me deixo muito “disponível” para curtir esse silêncio. Antigamente, por exemplo, eu tomava banho ouvindo música. Agora, já passei para vídeos no Youtube. Entre uma enxaguada e outra, e o marido reclamando do volume do celular, eu tento dividir a minha atenção em mil.
E o que torna a tentação ainda maior é que tem de fato muita coisa legal para a gente consumir hoje. Minha lista de podcasts salvos só aumenta. Já a pasta de prints com dicas de algo que quero ver, ouvir ou ler está fora dos limites. Como segurar a ansiedade de que a gente TEM QUE consumir tudo?
Lembro da primeira vez em que uma antiga chefe prestes a viajar para o festival SXSW comentou algo como “tem tanta coisa legal para ver lá que eu já estou sofrendo de F.o.M.O”. Na hora eu fiz cara de “ah, sim, claro”, mas desconhecia o termo. Ao pesquisar, a síndrome de Fear of Missing Out caiu como uma luva para mim. Foi como dar nome aos sentimentos e sensações e perceber que aquilo ali realmente era um mal do século.
Entra ano e sai ano, incluo na minha lista de metas diminuir o uso do telefone. Em alguns momentos em que isso já deveria ser básico, eu sinto que estou melhorando. Na hora de sentar-se para brincar com as crianças, por exemplo. Ou dando mais gás na minha lista interminável de livros na cabeceira. Pequenas conquistas do dia a dia. Mas ainda estou longe de atingir aquele objetivo que é clássico das matérias de comportamento sobre o tema: deixar o celular em outro cômodo na hora de dormir. Ainda uso a desculpa de que é meu despertador – e realmente é! – para dar aquela “roubadinha” na hora de deitar-se ou ao acordar.
Era uma viagem de final de semana, quando eu e um grupo de amigos fizemos uma competição para ver quem era o mais “zé droguinha” do celular, ou seja, aquele cujo iPhone denunciaria com maior tempo de uso. Comecei a apuração gelada, sabia que meu caso era sério. Aproveitei que as atenções se voltaram para um amigo que colocou a culpa nos joguinhos do filho para justificar o tempo elevado. Mas a real era de que, sim, eu ganhava de todos eles. Quer dizer, ganhava ou perdia?
Porque todo esse consumo está ligado diretamente a esse bem tão precioso atualmente que é o tempo, não é mesmo? O número de pratinhos aumenta, a pressão pela performance nas mais diferentes áreas da vida acelera, e ainda temos “só” 24 horas no dia. Considero, então, um desafio extremamente atual e necessário o da gestão do tempo. Para ficar mais em paz consigo mesmo, é preciso acolher a incapacidade de dar conta de tudo e conseguir selecionar com mais foco o que consumimos.
E, você, tem conseguido administrar bem o seu tempo ou a FOMO também bate por aí?
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