top of page
IMG_0614.jpeg

Quando chega o segundo

  • Fernanda Barreto
  • Oct 3, 2023
  • 3 min read

No último final de semana, meu filho Marcelo se desequilibrou em um banquinho no quarto da irmã e, ao cair, ele encontrou pelo caminho um lápis safado que fez um pequeno corte na palma da sua mão. Pequeno corte, mas com bastante sangue, o suficiente para muuuuuito choro, gritos de “eu vou ter que ir para o hospital” ou “eu nunca mais vou poder ser o goleiro no futebol”. Depois de água, gelo, Merthiolate e muito colo, ele se acalmou. A cena toda deve ter durado menos de 10 minutos. Do minuto zero ao final, Isabel, a irmã caçula, chorou tanto quanto o acidentado. Aliás, deve ter sido por mais tempo e certamente em decibéis mais elevados. O motivo não era preocupação com o irmão ou tristeza pela situação. Era ciúme.


Naquele momento, depois que tudo estava mais controlado, eu tentei conversar com a Isabel sobre o que ela estava sentindo. Do alto dos seus três anos, é um tanto complexo elaborar sobre a maioria dos sentimentos. Mas ser mãe é não desistir nunca, então lá fui eu tentar colocar em poucas palavras – parecia ouvir a voz da minha terapeuta soprando no meu ouvido “sem muitos detalhes, Fernanda, menos, bem menos” – que aquele sentimento era legítimo, que eu acolhia a sua dor. No entanto, em um momento como aquele, precisava dar atenção especial para o irmão. E ela teria que tentar lidar com aquela frustração. Digamos que ela não ficou feliz com a minha resposta, rs.


“Ter irmãos é morrer um pouco”. Eu fiquei bem impactada quando ouvi essa frase da super Lua Barros. Ao mergulhar um pouco mais fundo, parece que fez mais sentido para mim. Afinal, você passa a dividir praticamente tudo na sua vida com a chegada de um irmão. Principalmente a atenção dos pais. Para o primogênito, é uma perda de reinado. Para o novo integrante, a árdua missão de conquistar um território onde já havia um rei (ou rainha). Agora aqueles dois (ou mais) seres precisam encontrar em conjunto uma solução para uma gestão colaborativa e coletiva.


Eu sou a caçula de três irmãos, temporã, tenho 9 anos a menos que minha irmã do meio. Fui bastante mimada por todos, pais e irmãos, e sempre me senti muito amada. Obs: tive inclusive bastante dificuldade para largar da barra da saia da minha mãe, mas isso é tema de outro texto. Voltando ao assunto dos irmãos, demorei para encontrar meu lugar ali naquela configuração que já parecia formada. Acho que esse encontro veio praticamente com a chegada na idade adulta e, finalmente, com o meu próprio reconhecimento de que poderia sim estar “no nível” deles.


Hoje, com dois filhos, todos em casa sentimos na pele o desafio diário de equilibrar. Equilíbrio de atenção, de cobrança, de farra, de bronca. Na mão dos pais, um dos desafios mais gigantes que é ajudar na autonomia emocional da criança. E está claro que isso tem muito a ver com o tamanho da segurança que essa mãe e esse pai sentem. Agora, como ser seguro nessa brincadeira de maternar e paternar, diante das responsabilidades que isso implica? Não é mole não!


Uma coisa é certa e tento colocar como meta diária: andar atrás da perfeição é se afastar da sua individualidade, da mãe que só você é capaz de ser. Do indivíduo que só você é capaz de ser. Então, se a nossa missão pessoal é nos encontrar na própria individualidade, vale a mesma coisa para os filhos, certo? Bingo. Acho que irmãos meio que já se comparam naturalmente. Não precisam da gente para apontar nossos dedos e semear a discórdia entre eles.


O pote de ouro no final do arco-íris é criar um novo jeito de se relacionar com cada filho. Não voltar a ser o que era antes porque, com a chegada do segundo, tudo mudou, se transformou. É se permitir descobrir como vamos nos relacionar agora, sem negar sentimentos. Assumir esse luto, essa morte. Mesmo que a gente sinta medo ou raiva da morte.


E quem por aqui está vivendo as maravilhas e angústias de uma vida com dois ou mais filhos? Ou quem tem irmãos. Quer compartilhar um pouco mais sobre essa aventura?

Recent Posts

See All
Ser mãe e filha

Eu não imaginava que seria assim. Nos meus sonhos e planos, minha mãe seria aquela a quem eu recorreria em qualquer situação com meus...

 
 
 

1件のコメント


milacombe
2023年10月03日

Aqui em casa é que nem gato e rato... Hoje inclusive o mais novo escreveu uma carta para a irmã na terapia. É tema recorrente por aqui fazer esses dois de temperamentos tão diferentes se entenderem.

いいね!

Quem eu sou

Meu nome é Fernanda e sou jornalista, aquariana, carioca e mãe de dois filhos. Adoro conversar, trocar ideias e viajar. Acima de tudo, busco cada vez mais sentir-me inteira. É por isso que criei o Blog Carta Aberta, um espaço para compartilhar minhas reflexões, histórias e experiências. Acredito que a escrita tem o poder de nos conectar, nos curar e transformar. Espero que você encontre aqui um lugar para se inspirar, refletir e se sentir acompanhado em sua jornada. Seja bem-vindo!

37468602-db57-49fa-aee1-498b4d045f8e.jpeg

Quer falar comigo?

Obrigada pelo contato

bottom of page