Alma de viajante

Viagem é sonho, encantamento, esperança. Viver uma outra vida por um tempo. Dar uma pausa na realidade. Deslocar-se da vida cotidiana. Para mim, é uma paixão desde sempre. “Creio que fomos nós, seu pai e eu, que contribuímos para sua alma viajante”. Eu encontrei essa frase escrita pela minha mãe em um álbum de fotos de alguma viagem em família. É claro que os meus anseios aquarianos por liberdade contribuem para isso também. Então será que podemos acreditar em combinação perfeita?

Já na vida adulta, eu sempre fui aquela de tirar 30 dias de férias para embarcar na sexta direto do trabalho e aterrissar de volta na véspera, se não no próprio dia de voltar para labuta. A ideia era viver intensamente aquela experiência, aproveitar todo o tempo, como se apenas viajar desse sentido às férias. Aliás, experiência que durava muito mais do que 30 dias, porque começa antes. Nas pesquisas, nas preparações, na escolha do roteiro, na atualização diária no site de previsão do tempo para ver se vai estar calor ou frio.

Atualmente, não dá para pensar em tirar 30 dias de férias. Se for com as crianças, talvez eu volte em uma ambulância. Sem as crianças, tem chance da fechadura da porta da casa ter sido trocada. Mas, ainda assim, ainda tem muito espaço para sonhar. E agora nas possibilidades de rever ou descobrir o mundo através do olhar dos filhos, o que é algo extremamente encantador e enriquecedor.

Para mim, viagem é uma escola de repertórios. Se divertir, lidar com imprevistos, com a frustração, com o limite de tempo, de dinheiro. Para alguém controladora como eu, é quase um teste de fogo. Olha aí mais um poder que viajar tem na minha vida. Se surpreender, conhecer pessoas novas, lidar com as emoções. Tudo isso é aprendizado.

Em 2022, fiz um curso com o Zeca Camargo chamado “Escrita de viagem”. Ele, que já deu a volta ao mundo e conhece como poucos a arte de viajar, compartilhou sua vivência e como unir duas paixões. Para o Zeca, uma viagem começava ao ler na Enciclopédia Barsa – os jovens podem dar um Google se não souberem do que se trata – o verbete sobre tal destino. A missão de ler e preparar-se antes de partir era de seu pai e ele herdou com sabedoria. Zeca definiu viajar como um exercício de olhar por uma ótica que não é a própria. Ir além. Um exercício de empatia.

A minha loucura é tanta que eu viajo na viagem dos meus amigos. É só alguém me falar que tem planos de ir para determinado destino, que eu começo a palpitar, encho de links, envio prints dos mais diversos. Se for sobre Paris, então, aí o buraco é mais embaixo. Mas aí é tema para outro texto.

No meu computador, tenho salva uma planilha chamada “Viagens dos sonhos”. Ela tem até abas. Janelas. Janelas para o mundo. Fazer essa planilha já é uma viagem. Ela faz parte de mim, é um combustível para meu desejo de pensar na próxima. E na próxima. E na próxima.

E para você, qual é seu propósito de viajar?